SEXTO DOMINGO DO TEMPO COMUM – B
Pe. Valeriano dos Santos Costa – Capela da PUC-SP – 11 de fevereiro de 2018
2Re 5,9-14; Sl 31(32); 1Cor 10,31-11,1; Mc 1,40-45
Se queres, tens o pode de curar-me!
Hoje, a liturgia apresenta Jesus como Onipotente. “Se queres, tens o poder de curar-me”, disse um leproso, de joelhos. Quando aquele homem dobrou os joelhos fez um profundo gesto de adoração e brotou do seu coração uma certeza inabalável de que diante dele estava Aquele que tinha o poder em suas mãos. E cheio de compaixão com as misérias humanas, Jesus estendeu a mão, dizendo eu quero: fica curado. Então a força de Jesus se manifestou na Palavra.
Esse homem doente representa a humanidade, que vive na realidade do pecado, nas sombras da morte e nas sobras da vida. Como diz o filósofo cristão Xavier Zubiri, a realidade nos afeta e nos domina, não deixando saída, a não ser que outra realidade também nos afete e nos domine. Não temos forças para sozinhos sair da realidade do pecado e do mal. Somente Jesus podia ajudar um homem sem saída, pois havia muito mais dor do que a própria doença; havia a rejeição social e até imputação de rejeição divina. Ali estava propriamente um ser humano esmagado.
O que lhe salvou foi a confiança em Jesus, confiança que deve ser nossa experiência hoje. Jesus veio ao mundo de uma forma inusitada que afrontava a natureza. Porém Maria creu e nos abriu a porta da salvação, quando acolheu as palavras do Anjo que lhe dizia que para Deus nada é impossível.
O que o doente precisava era de uma mão que lhe tirasse da realidade do pecado e da dor e o colocasse na realidade do amor e da graça. Por isso a ação de Jesus já estava anunciada pelo salmo 80,1, que diz que Deus arrancou Israel da terra do Egito. Aqui sim, o Egito foi para Israel o símbolo do mal. Então Jesus hoje nos arranca da terra do Egito e nos coloca na terra do bem, a terra prometida. É uma ação poderosa que Ele faz pela graça. Assim morrem no berço as tentações do pelagianismo ou neopelagianismo, que colocam no ser humano as virtudes para ao menos dar o pontapé inicial para a graça. Tudo é dom Deus por meio de Jesus. O gesto de Jesus de tomar o doente pela mão foi uma ingente demonstração de amor. Era como se dissesse: eu te quero um bem infinito e te amo como irmão, para que possas experimentar o amor do Pai que eu experimento eternamente.
Certamente quando a mão de Jesus lhe tocou, sentiu um calor afetivo que percorreu toda a espinha dorsal. Então descobriu que era amado. O amor não escolhe condição social. É por isso que há tantos casos de pessoas que aparentemente são amadas, porque privilegiados, mas na verdade sentem-se solitários e recusados. Tantos suicídios!
Por isso o salmo responsorial ressoa: Sois, Senhor para mim alegria e refúgio. E no coração do salmo aparece a condição do pecador que foi perdoado. Paulo convoca aos que se sentem perdoados para ajudar os que estão sofrendo porque não conseguiram aceitar a mão de Jesus que liberta e salva. A mão de Jesus já estava agindo antecipadamente quando Naamã, o sírio, procurou o Deus de Israel por meio do Poeta Elizeu.
Mas hoje temos a mão de Jesus estendida na Eucaristia. Não deixemos passar essa oportunidade tão rica e tão real.